DIGNIDADE... E FALTA DELA

Com tudo perdido, temia que a equipa se mostrasse desmotivada e sem inspiração. Porém, viram-se jogadores vivos e empenhados, puxando lustro ao seu profissionalismo. Até aqueles de quem menos gosto e que mais tenho criticado. E do jogo não há muito mais a dizer. 
O que me entristeceu, e revoltou, foi ver 15 ou 20 imbecis, no final, a prestarem-se, e prestarem o Benfica, a um espectáculo indecoroso. 
Aqueles indivíduos não são do meu clube. Se o meu clube fosse aquilo, então era eu que estaria a mais. 
Há um bando de lixo humano que quer levar Alcochete para o Benfica. E parece empenhado em aproveitar todas as oportunidades para o fazer. 
Isto está para lá de Schmidt ou de Rui Costa. Não é contestação. Muito menos é exigência - palavra que aquela gente nem sabe o que significa. É estupidez. E é criminoso para com um clube como o Benfica. 
Independentemente das discordâncias técnico-tácticas que se possam ter, e que são legítimas, tiro o meu chapéu à conferência de imprensa de Schmidt, e sobretudo à comparação com Marselha - onde uma equipa que não joga nada e está em 9°lugar, cria um ambiente de apoio aos seus jogadores que impressiona, que invejo e, vendo o que vi hoje, me cobre de vergonha. 
Se se falar em exigências, o que me parece de exigir é que aquelas anormalidades sejam identificadas, e, caso sejam sócios (o que, francamente, duvido) sejam expulsos do Benfica para sempre. 
Não entro por questões geracionais, porque não quero generalizar. Mas também isso me preocupa. Já não só como benfiquista, mas também como cidadão. 

PARA 2024-25

Seis contratações certeiras (sobretudo guarda-redes experiente, lateral-esquerdo seguro, médio defensivo robusto e ponta-de-lança eficaz), renovações de Rafa e Di Maria por mais um ano, inevitável venda de João Neves (nunca abaixo de 60M). Seria este o meu plano para a próxima época.
Se fosse possível, preferia segurar Neves e vender António. Mas duvido que seja possível segurar o médio algarvio.
O guarda-redes, por mim, podia ser Vlachodimos. Mas se Schmidt ficar, tal será impossível.
Os jogos que restam podem, e devem, servir para testar alguns elementos do plantel, e proceder a eventuais ajustes (imaginemos, por exemplo, que Marcos Leonardo marca 5 golos nas últimas jornadas, nesse caso talvez apenas fosse preciso mais um ponta-de-lança).

PARA PENSAR

1994-95 Artur Jorge e Zoran Filipovic
1995-96 Artur Jorge e Mário Wilson
1996-97 Paulo Autuori, Mário Wilson e Manuel José
1997-98 Manuel José, Mário Wilson e Graeme Souness
1998-99 Graeme Souness e Shéu Han
1999-00 Jupp Heynckes
2000-01 Jupp Heynckes, José Mourinho e Toni
2001-02 Toni e Jesualdo Ferreira
2002-03 Jesualdo Ferreira, Chalana e José António Camacho
2003-04 José António Camacho

Era problema de treinador? Ganhou-se alguma coisa com as trocas?
E em 2024? Será problema de treinador?

VOLTA JHONDER CADIZ

... ou o Rodrigo Pinho. Ambos marcam golos. Todos os avançados marcam golos menos os do Benfica. Sinto saudades de todos os que passaram por cá. E já estive mais longe de suspirar por Martin Pringle. 
Para a próxima época a Luz precisa, como de pão para a boca, de um ponta de lança. Um qualquer, mas que seja ponta de lança e faça o que é suposto fazer.
Só de pensar que, não há muitos anos conviviam, no mesmo plantel, Cardozo, Lima e Rodrigo, e, mais tarde, Jonas, Mitroglou, Jimenez, Jovic e Talisca, sinto arrepios ao olhar para o presente. 
Inacreditável. Indesculpável. Ruinoso. 

GUIÃO PARA O FUTURO

O que o Benfica tem de fazer é (com Schmidt ou sem Schmidt, não é esse o principal problema):
- Rever a cultura desportiva
No Benfica criou-se a ilusão de que o clube é o maior por decreto, tem o direito divino de vencer, e tal só não acontece por factores externos ou incompreensíveis. Falta humildade cultural a todos, e também aos adeptos. O clube nasceu pobre e operário, chegou ao topo da Europa com equipas de combate, mas a partir de certa altura entendeu-se que, além de tentar simplesmente ganhar, tinha de o fazer com um jogo bonito e com pés de veludo, esmagando, com classe, todos os adversários. Desprezam-se os músculos, os metros e os quilos, sendo que o futebol é, antes de mais, um desporto e não um bailado. Despreza-se a defesa porque os adversários são, obviamente, muito inferiores ao supremo e glorioso Benfica. Contratam-se extremos e mais extremos, criativos e mais criativos, e deixam-se posições a descoberto. Depois, todos ficamos muito espantados por perder.
- Mudar a política de contratações:
Basta de jogadores imberbes que custam milhões, e chegam só para ver se dão negócio. É preciso contratar, cirurgicamente, para o onze titular. Não é admissível dar 10 milhões, ou mesmo 5, para alguém que se destina fatalmente a ser emprestado, ou jogar na Equipa B. Esta, aliás, serve precisamente para constituir essa rectaguarda de juventude e promessas, mas com os jovens criados no Seixal, e não com estrangeiros trazidos a peso de ouro. 
Basta, também, de jogadores veteranos, de maior ou menor nomeada, e com extenso histórico de problemas físicos. Já veio Draxler, já veio Bernat. Penso que é suficiente.
É preciso ainda recuperar o olhar sobre o mercado nacional, que a partir de dada altura, inexplicavelmente, deixou de ser sequer considerado. Olhe-se para os rivais e veja-se de onde vêm, predominantemente, os seus reforços. Ficam mais baratos, já estão adaptados ao campeonato e à cultura portuguesa, além de, com essas negociações, fomentar boas relações com os clubes de que precisamos, nomeadamente, nas assembleias da Liga. Há bons jogadores no campeonato português, e devem ser esses o alvo primordial de um clube como o Benfica.
- Reflectir sobre os erros cometidos:
Rui Vitória foi Bi-Campeão Nacional e esteve à beira do Tri. Meses depois era despedido após um ciclo de maus resultados e péssimas exibições. Bruno Lage entrou de rompante, ganhou quase todos os jogos, bateu recordes e foi campeão. Nem sequer terminou a segunda época, após uma queda a pique do rendimento da equipa, estranhíssima, e que ainda hoje permanece por explicar. Jorge Jesus ganhou três campeonatos e foi a duas finais europeias. A segunda passagem foi um inesperado fiasco, até porque o treinador continuou a vencer mal saiu do Benfica. Roger Schmidt foi campeão, a sua equipa praticava um futebol espectacular, chegou aos Quartos-de-Final da Champions, e agora é o que se vê. Ora parece-me que há aqui um padrão, que tem de ser analisado. O Benfica não pode tornar-se um cemitério de treinadores, como aconteceu nos anos do "Vietname" - ao longo dos quais, recordemos, passaram pela Luz nomes como Artur Jorge, Paulo Autuori, Manuel José, Mário Wilson, Graeme Souness, Jupp Heynckes, José Mourinho, Toni, José António Camacho, Jesualdo Ferreira, e quase todos saíram pela porta dos fundos. Obviamente que, na altura, o problema não era de treinador. Temo que agora também não o seja.
- Manter a serenidade:
Nestas alturas o adepto comum tende a confundir tudo, e a querer deitar fora o menino com a água do banho. Ora o Benfica tem de reflectir, tem de melhorar, tem de mudar o perfil do seu plantel e resolver o seu problema desportivo. Mas não precisa de uma revolução institucional, sem que se saiba o que dela possa vir a resultar. Rui Costa é benfiquista, conhece o clube, conhece o futebol, e não acredito que tudo o que escrevi acima não lhe tenha já passado pela cabeça. Cometeu erros, e espera-se que venha a aprender com eles. Mas, caramba, uma coisa é apontar responsabilidades, outra é apontar a porta da rua. Até porque não se perfila nenhum outro nome em condições de dirigir o Benfica nesta altura.
Isto significa que os benfiquistas, mantendo o sentido crítico (não tenho aqui feito outra coisa), devem também manter a serenidade e a união, pois só assim as coisas podem melhorar. Caso contrário, caso se entre por uma política de terra queimada, estaremos, ano após ano, a voltar ao ponto de partida. Infelizmente, também sabemos o que isso é, e o efeito que dá.

LISTA DE DISPENSAS

TRUBIN (10M) - Teve mais falhas graves numa temporada ainda incompleta (Salzburgo e Casa Pia na Luz, Dragão, todos os jogos com o Sporting, Marselha e outros que comprometeram as várias competições) do que Vlachodimos em seis anos de Benfica. Deu razão aos poucos que, como eu, achava arriscado trocar de guarda-redes. Poderia talvez ser emprestado para ganhar maturidade e depois, então sim, vermos se tem condições para ser o titular da baliza do Benfica. Se dependesse de mim, ainda tentava resgatar o grego.
JURASEK (14M) - Um logro total, 14 milhões para o lixo. Vender, nem que seja ao desbarato. Quem diabo viu nele qualidades para ser o lateral-esquerdo do Benfica? A sua contratação entra no âmbito da gestão danosa. Rua!
CARRERAS (E) - Devolver sem hesitações. Espero bem que, depois de tudo isto, o Benfica não gaste mais um cêntimo em jogadores com este perfil. Há melhor, ou pelo menos igual, na equipa B (cujo capitão é titular da selecção de sub 21 e é... lateral esquerdo) .
BERNAT (E) - O Draxler da temporada. Também já chega de jogadores em pré-reforma e com os músculos às costas. Salários elevados para o lixo. Obviamente, devolva-se.
KOKÇU (29) - Lembro que foi o jogador mais caro da história do futebol português. Tecnicamente não é o pior deste lote, mas mostrou muito pouco dentro de campo (nada a mais do que um qualquer Chiquinho, diga-se), e deixou transparecer que, fora dele, também não cumpre os requisitos necessários. Veio para o lugar de Enzo, que já estava ocupado por João Neves - que é cinco vezes melhor. Sempre foi "8" no Feyenoord, mas alguém de apressou a insinuar que não, que era um "10", construindo uma mentira que protegeu o jogador e atacou o técnico. Gostava de conhecer o seu salário, e comparar com jogadores que ficaram e jogadores que saíram. Ainda deve ter mercado na Holanda ou na Turquia. Vender ao melhor preço, mesmo assumindo algum prejuízo. O seu perfil, táctico, físico e até humano (com tiques de prima-dona), não serve para este clube. Rua!
PRESTIANNI (9) - Incompreensível gastar 9 ou 10 milhões num jogador para a equipa B, ainda por cima com um histórico de indisciplina. Agora, só resta emprestar para ver o que dá, e...caso não dê nada, como suspeito, esperar que o contrato vá expirando.
ROLLHEISER (9) - Marcou um bom golo, e é tudo. Jogador talhado para o futebol sul-americano: suave, sem agressividade, sem pressão, inexistente sem bola. Tudo o que o Benfica não precisava, nem precisa. Pensar que pode ser um substituto para Rafa é como pensar em Grimaldo/Jurasek ou Ramos/Cabral. Só não vê quem não quer. Tentar vender para a Argentina.
SCHJELDERUP (14) - No seu percurso vê-se o futuro de Prestianni. Jogadores imberbes, sem perfil físico, nem táctico, em quem, só porque dão uns toques, se investem milhões, e, como é óbvio, rapidamente desiludem. Tem piores números nos campeonatos nórdicos do que Diogo Gonçalves, que era da formação e tinha um salário certamente menor. Enganar algum clube mais incauto, ou então esperar pacientemente que o contrato termine.
ARTHUR CABRAL (20) - O maior e mais grave flop do mercado, pelo valor desbaratado, e pela importância do papel que o lugar exigia. Não surpreende muito a quem tenha olhado para os dados da sua carreira: nunca tinha feito um jogo na Champions nem na Selecção, era suplente de Jovic na Fiorentina. E ainda menos quem viu com atenção os seus primeiros jogos. Como uma vez por outra marca um golo de bicicleta e outro de calcanhar, é capaz de fazer uns vídeos bonitos de dois ou três minutos, e enganar os distraídos. Ainda por cima, não encaixa, nem encaixaria, minimamente no perfil de jogo de Schmidt. Vender rapidamente, nem que seja por um terço do preço de custo. Não o quero ver mais de águia ao peito. Pela sua total inépcia, andou o Benfica uma época inteira à procura de identidade, quando se percebia que era um ponta-de-lança tudo o que faltava a Schmidt. Tengstedt era o terceiro da lista de avançados. Leonardo foi uma tentativa de corrigir. Cabral veio incrivelmente para ser o primeiro... Como? Não consigo entender. Quem sugeriu ou decidiu esta contratação tinha obrigação moral de assumir o erro e dar a cara por isso. Scouting? Schmidt? Rui Costa? Braz? Era importante sabermos antes de atirar pedras a alvos errados. 
MARCOS LEONARDO (18) - Verde, verde, verde. Era avançado de uma equipa que desceu de divisão, e saiu em baixa e perante insultos dos adeptos. Tem o corpo de um passarinho, e apesar da facilidade de remate, não faz mais nada em campo  - nem no jogo aéreo, nem em tabelinhas, nem a pressionar os defesas, nem a jogar de costas, nem a ganhar espaços ou bolas divididas, nem a desmarcar-se e oferecer linhas de passe, nem.. Enfim, dada a idade, talvez possa ser emprestado e vermos o que dá. Outro que já trazia histórico de indisciplina.
TENGSTEDT (11) - É louro, é bastante tosco, e nem sequer é assim tão alto. Marcou três golos em 37 jogos, e isto diz tudo. Tem os pés de um avançado da Liga 3, e por muito que corra não é, manifestamente, jogador para o Benfica, muito menos para custar quase 11 milhões de euros. Vender ao melhor preço (duvido que valha mais do que 3 ou 4 milhões). Antea Musa, sem dúvida.

CITAÇÕES

Custa-me, mesmo muito, fazer este exercício. Adorava não ter tido razão. Infelizmente estava certo na maioria dos textos que aqui escrevi em Junho, Julho e Agosto - quando, no meio da euforia generalizada, parecia ser eu a única voz dissonante e a desconfiar de como estava a ser preparada a época. Quem tiver a paciência de ler ou reler verá que estava lá tudo, ou quase tudo. É penoso imaginar como as coisas podiam ter sido diferentes, sem grande esforço, sem grande investimento. Dos 31 campeões de 2023 ficaram no plantel 12. Foi uma revolução silenciosa, mas devastadora. Agora, há que começar tudo de novo.

JUNHO

O único problema é que esta contratação pode vir a tapar a progressão de João Neves. E devo dizer também que, para mim, com Florentino, Aursnes, João Neves e Chiquinho, o meio campo até estaria razoavelmente bem preenchido, necessitando talvez apenas de um gorila (Al Musrati?) - coisa que o turco manifestamente não é. 

JULHO

Aí, falta claramente uma alternativa a Bah (tanto João Victor como, sobretudo, João Neves, rendem muito mais nas suas posições, e nenhum me convenceu como lateral), enquanto no lado esquerdo Jurasek ainda não mostrou as credenciais - aliás, se fosse eu a fazer o onze, neste momento preferia Ristic (que defensivamente, diga-se, também deixa muito a desejar)

As alternativas (no meio-campo) são muitas, mas o que me parece é que apenas há um Florentino. Kokcu ainda não mostrou praticamente nada face ao preço que custou. Neste momento, o melhor é mesmo João Neves. Tino-Neves seria a minha dupla nesta altura. Quanto a Tengstedt, confesso que ainda não vi nada que tivesse justificado a contratação (e a ideia já vem de há vários meses). Nem talento, nem capacidade física, nem eficácia.

Jurasek e Kokcu terão de mostrar muito mais. Se isto dá para ganhar ao FC Porto? Ao do ano passado, até pelas características tácticas de ambas as equipas,, temo que não.

Além de algumas coisas que esta equipa tem a menos (lá está: músculo, altura, agressividade, rigor...), agora parece-me ter também outras ...a mais.
À parte Jurasek - que ainda não mostrou absolutamente nada, mas cuja posição era imprescindível reforçar - os outros reforços estão a parecer-me, além de (muito) caros, também inúteis ou até mesmo inconvenientes. Di Maria e Kokçu provavelmente vão colocar David Neres e João Neves no banco, por uma mera questão de estatuto. Em termos de rendimento, e pelo que vi até agora, não justificam a entrada no onze. Veremos, ao longo da época, se justificam o avultadíssimo investimento.

Florentino continua a ser apenas um, e tem ido para o banco.

Que eu esteja enganado. Que sejam as obsessões de Roger Schmidt a vingar. 

 AGOSTO

Também ainda não gostei de Jurasek, nem de.. Kokcu. Só entre eles estão 40M, e até agora, salvo a assistência do turco na Supertaça, pode dizer-se que a equipa passava muito bem sem eles.

As opções de Schmidt, cuja teimosia e personalidade cada vez me irritam mais

A Vlachodimos bastou uma exibição negativa para merecer estúpidos reparos publicos e perder logo o lugar para um jovem da equipa B (para mais, com o ucraniano de 10M no banco).

quanto a Ristic, também ainda não entendi a resistência em utilizá-lo, quando me parece o menos mau lateral do Benfica

Florentino também não tem suplente no plantel, mas nem assim joga de início. Nem assim se acautelou a posição seis no mercado

Quanto a Arthur Cabral, vamos ver quantos golos marca. 

Enfim, mais coisa haveria para dizer sobre tudo isto. O resultado, hoje, foi uma vitória de aflitos contra um adversário de segunda divisão, com o risco, que chegou a ser real, de ficar já a cinco ou seis pontos da liderança.

Veremos os próximos capítulos. Mas há muita coisa a rever. A Supertaça disfarçou erros e insuficiências, que começam na abordagem ao mercado, e continuam na teimosia de um treinador demasiado obstinado para o meu gosto, e no receio que tenho de ver comprometer tudo o que se alcançou na época passada em termos de coesão de grupo e consequente dinâmica de vitória. Oxalá o tempo desminta o meu pessimismo. Para já, não estou a gostar muito. E duvido da renovação do titulo - que só acontecerá por eventual inépcia dos rivais. 

Não contratava Trubin por 10 milhões. O Benfica precisava de um suplente para Vlachodimos, e não de um guarda-redes tão caro que, até agora, mesmo sem ter jogado, mesmo sem qualquer culpa, parece ter já causado problemas. Os guarda-redes de Arouca, Famalicão ou Gil Vicente eram boas opções para servir de "Heltons Leites", dando espaço e tempo a Samuel Soares para amadurecer. Odysseas não é Courtois, como Rafa não é Mbappé. Infelizmente, o Benfica só pode ter jogadores de nível mundial, ou no início das carreiras (antes de explodirem), ou no fim (como é agora o caso de Di Maria). O grego pagou sempre o preço de ter sucedido a Ederson e Oblak que, esses sim, foram a excepção. Além de que o grau de exigência que alguns adeptos e analistas hoje em dia colocam nos guarda-redes raia o absurdo. Fossem Costa Pereira, José Henrique ou Bento (como Damas ou Vítor Baía, como Yachine Maier ou Zoff)) avaliados pelos mesmos critérios, e nenhum passava da mediocridade.

Um guarda-redes, no campeonato português, numa equipa grande, nem sequer é assim tão importante. Até com Bruno Varela o Benfica ia sendo campeão, como aliás foi com Quim. No Sporting já vi Adán fazer exibições miseráveis, e quanto ao tão idolatrado Diogo Costa, basta recordar o Mundial, onde enterrou a selecção portuguesa (algo que, diga-se, tem sido silenciado como se não tivesse realmente acontecido). Para o Benfica ser campeão e fazer uma boa Champions, Vlachodimos é mais do que suficiente. Temo que já tenha sido queimado - a começar pelo próprio treinador.

Tinha mantido Gilberto no plantel. O titular é Bah, e Gilberto era o suplente perfeito, tratando-se de um jogador aguerrido, comprometido, identificado com o clube e com o país. Um campeão. Não sei se se encontrará muito melhor para o banco, e sem gastar mais dinheiro.

 Partindo do princípio que não era mesmo possível segurar Grimaldo (nem oferecendo-lhe os 14 milhões gastos em Jurasek),para discutir o lugar com Ristic contratava um lateral-esquerdo verdadeiramente bom. Não sei se o checo o é, ou vai ser. Até agora não gostei nada. Mesmo nada. Além de que estou farto de defesas que não são assim tão fortes a...defender.

Jamais gastaria 25 milhões em Kokçu. Parece bom jogador, mas não era, de todo, aquilo que o Benfica, a meu ver, precisava para o meio-campo. O verdadeiro substituto de Enzo Fernandez emergiu na fase final da época passada, e chama-se João Neves. A alternativa era Chiquinho, que também cumpriu aquando da sua comissão de serviço. A posição estava mais do que acautelada, e o turco acaba por ser, pelo menos por enquanto, mais problema do que solução. O salário (bem como as respectivas consequências no balneário), prefiro nem saber

Contratava, sim, um trinco para competir com Florentino pela posição "seis". De preferência um "gorila", forte, alto e agressivo. Em jogos grandes, e na Champions, o Benfica vai precisar de músculo. E este plantel carece bastante de altura e de largura.

Schjelderup, até ver, não tem nada a mais do que jovens que o Benfica tem emprestado ou mesmo dispensado. A diferença é que custou muito dinheiro. Aliás, ele e Tengstedt, terão sido precipitações do último mercado de Inverno - que é um mercado particularmente propício a enfiar barretes. Apostava em Tiago Gouveia, e.. confesso que não sei o que se passa com Henrique Araújo (em quem, há pouco mais de um ano atrás, depositava infinita confiança).

resta-me acreditar que Arthur Cabral (suplente da Fiorentina) seja, no mínimo, melhor que Musa. Se assim for, já fico consolado.

Enfim, estão aqui descritas algumas das razões pelas quais não estou particularmente optimista. 

vejo muita coisa com potencial para correr mal. Obviamente que seguirei atentamente todas estas situações ao longo da temporada. Se pelo menos em metade delas tiver de dar o braço a torcer, já ficarei bastante feliz. Fazer o Totobola à segunda-feira é fácil. Estou a fazê-lo antes, tal como o teve de fazer a estrutura da SAD benfiquista. Há muita coisa que não domino (personalidades dos jogadores, relacionamentos entre eles, relações com empresários, etc), mas por norma gosto de seguir a velha máxima segundo a qual "em equipa que ganha, não se mexe". Ora parece-me que neste Benfica, que foi campeão há três meses, e fez uma belíssima carreira europeia, ter-se-á já mexido porventura demasiado.

continuo a não entender os critérios de escolha dos onzes, nem das substituições. Como disse atrás, só quero que o Benfica ganhe. E não tenho sombra de dúvidas de que Roger Schmidt percebe infinitamente mais de futebol do que eu. Desejo, ardentemente que tudo isto tenha uma lógica, e que no fim seja ele a ter razão. Entretanto vou dizendo e escrevendo o que penso, que é para isto que serve um blogue. Por vezes também para desabafar, mesmo correndo riscos de cair em exageros ou mesmo divagações, mas sempre de acordo com o que a cada momento vou sentindo. Nada me move contra o treinador benfiquista (pelo contrário, já lhe devemos um campeonato e uma supertaça), até parece simpático, é inteligente e educado. Por vezes não o entendo, e, com quase cinquenta anos que levo a ver futebol, tenho algum receio que isso seja um sinal de perigo.

Será normal um treinador que se sagrou campeão nacional logo na primeira época em Portugal, atingiu os Quartos-de-Final da Liga dos Campeões depois de uma carreira com momentos notáveis, e ainda adicionou uma Supertaça logo a abrir a nova temporada, ser tão questionado como tem sido Roger Schmidt nas últimas semanas? A resposta óbvia é: não! Mas permanece uma pergunta: então porque motivo é isso mesmo que está a acontecer?
Há que puxar o filme atrás. 
De facto, o Benfica fez uma primeira metade da temporada 2022-23 esplendorosa. Apurou-se brilhantemente no 1º lugar de um grupo da Champions onde estavam PSG e Juventus, venceu praticamente todos os jogos do Campeonato (apenas um empate, em Guimarães), e cavou desde logo uma distância considerável para os principais rivais que, por contraponto, entraram mal na temporada, escorregando sucessivamente em terrenos inesperados. À 7ª jornada o Benfica já tinha 5 pontos de vantagem para o FC Porto e 11 para o Sporting. À 11ª, levava 8 para os portistas e 12 para os rivais lisboetas. Como se sabe, isso veio a revelar-se determinante.
Se, por outro lado, isolarmos o que se passou desde a pausa para o Mundial do Catar, verificamos que o Benfica, daí em diante, perdeu 13 pontos, o Sporting 14, o Braga 11, e o FC Porto apenas 7. Não se superiorizou a nenhum deles no confronto directo. Com isso, colocou em risco um Campeonato em que chegou a ter, virtualmente, 13 pontos de vantagem (a meio da primeira parte do "clássico" da Luz, onde, diga-se, acabou por ser claramente manietado pela equipa de Sérgio Conceição, como o foi em alguns momentos dos dois "dérbis" lisboetas, nenhum deles ganho, em nenhum deles tendo estado, um minuto sequer, em vantagem). Não fosse uma surpreendente vitória do Gil Vicente no Estádio do Dragão, e não se sabe (mas calcula-se) o que teria acontecido. E seria catastrófico. Ainda no plano nacional, os encarnados foram eliminados da Taça da Liga por uma equipa que então militava no segundo escalão (Moreirense), e da Taça de Portugal pelo SC Braga. Os dragões venceram ambas as competições.
No plano internacional, depois de uma fase de grupos impressionante, o Benfica beneficiou de um sorteio extremamente simpático, que lhe pôs por diante um Club Brugge mergulhado numa crise gravíssima. Passou facilmente, mas caiu de seguida, dando menos luta ao Inter de Milão do que havia dado o FC Porto na ronda anterior.

Ou seja, desde o Mundial (Novembro/Dezembro de 2022), e, coincidentemente ou não, desde a saída de Enzo Fernandez, e porventura desde o memento em que a equipa deixou de ser capaz de surpreender, não se pode dizer que o Benfica tenha sido brilhante, e muito menos que se tenha superiorizado a um FC Porto com muito menores recursos. E já então se falava da teimosia de Roger Schmidt em insistir no mesmo onze, em desgastar, por vezes de forma desnecessária e incompreensível, alguns jogadores nucleares (não dando oportunidades a outros), e em fazer substituições que só ele parecia entender. Como tudo fica bem quando acaba bem, e o Benfica foi campeão, Schmidt pôde passar umas férias descansadas.

Não terá sido a derrota do Bessa a mudar a perspectiva dos adeptos. Na verdade, essa derrota (com traves, postes, erros individuais de jogadores e árbitros) teve uma componente de infelicidade enorme, bastando dizer que aos 89 minutos o Benfica vencia por 1-2, tendo chegado à vantagem já em inferioridade numérica. E, há que o dizer (e eu disse-o), Vlachodimos não esteve bem nessa partida, realizando a sua pior exibição pelos encarnados.

É precisamente o guarda-redes grego, ou melhor, o modo como Schmidt lidou com o assunto (na praça pública e de uma forma totalmente inusitada numa pessoa inteligente e sempre ponderada nas declarações que faz), que trouxe inquietação ao universo benfiquista, e mais reticências na sua (nossa) identificação com o técnico germânico.

Terá sido uma espécie de gota de água num processo que, como referi, já vinha da fase final da temporada anterior, e que passou também por uma gestão do plantel e dos reforços (a acreditar que as opções foram suas) no mínimo duvidosa, de onde ressalta a insistência num caríssimo Kokçu que não era prioritário, e na renovação de um Otamendi veterano e decadente, a escolha dos duvidosos (e também caros) Jurasek e Arthur Cabral, as dispensas dos razoáveis, mas seguros, Gilberto e agora Ristic, e uma composição de onze que sacrifica desnecessariamente Aursnes (um dos pilares do último campeonato...no meio-campo), deixa de fora sistematicamente Neres, também Morato (e sempre Musa), e, por fim, sacrilégio dos sacrilégios, neste último jogo, o jovem João Neves - que salvou o campeonato passado com um punhado de extraordinárias exibições num momento de grande pressão e em que uma equipa manifestamente extenuada precisava da sua energia como de pão para a boca.

Não defendo, de forma alguma, o despedimento de Roger Schmidt. Acho que só um louco o faria neste momento. Tive dúvidas, isso sim, numa renovação porventura precipitada e que, até ver, não acrescentou nada ao Benfica a não ser uma folha salarial mais generosa. Já foi feita, feita está.

Entendo, porém, que a crítica é livre, e até saudável. Quando os adeptos não puderem criticar as opções dos treinadores, o futebol terá morrido.

Nesse sentido, tenho sido uma das vozes que se junta à daqueles que, ao contrário do que seria de supor após um ano vitorioso seguido de um investimento avultado, não olham com grande entusiasmo para a nova época. E não o fazem, eu pelo menos não o faço, exclusivamente por receio e desconfiança no caminho que está a ser seguido por Schmidt - que, é preciso lembrar, nunca tinha treinado em países latinos, e também, diga-se, aos 56 anos nunca tinha vencido grande coisa. Temo que o balneário esteja a ser minado por opções duvidosas, por simpatias (Otamendi, Di Maria, João Mário, Kokçu) e antipatias (Ody, Gilberto, Morato, Ristic, Florentino, Neres, Musa...), por diferenças salarias substantivas e não sustentadas no rendimento desportivo, e por um técnico de perfil obstinado, pouco focado nos adversários e na forma de os bloquear (ou desbloquear), e que vive muito à custa de uma excelente preparação física do plantel (aí tiro-lhe o meu chapéu). Além de que (isso acontece com todos os treinadores, eu diria mais, com todas as lideranças), o tempo vai causando desgaste: um dia zanga-se com um, na semana seguinte com outro, e se as coisas não são muito bem acauteladas, se não há uma preocupação séria com isso (não estamos na Holanda, e muito menos na China), é fácil perder o controlo total do grupo. Isto não é apenas no futebol, a aí já sei bem daquilo que falo.

O que mais desejo é estar enganado. É concluir, em Maio de 2024 (preferencialmente vivo e de boa saúde), que mesmo após quase 50 anos a ver futebol, não percebo nada disto. E que Roger Schmidt é, afinal tão bom treinador como parecia em Novembro de 2022, que o Arthur Cabral é um craque, que o balneário (depois de tantas torturas) ficou coeso e solidário, e, sobretudo, que o Benfica é campeão. 

NÃO HÁ SÓ UM CULPADO

Quando se perde por penáltis, é sempre possível dizer que se podia ter ganho. E nisso, uma vez mais, o Benfica foi infeliz.
Mas esta eliminação, diante de uma equipa medíocre, e que na segunda parte do prolongamento estava literalmente morta, é apenas o corolário, eu diria, lógico, daquilo que foi uma temporada totalmente falhada. 
O próprio Benfica permitiu que a sua época dependesse totalmente desta partida e desta eliminatória. Ficando pelo caminho, quando teve tudo a seu favor (até a baliza dos penáltis e o facto de marcar primeiro), comprometeu a sua última vida. Não esquecendo que a equipa chegou até aqui com autênticos milagres em Salzburgo e em Toulouse, e que se manteve durante alguns meses na luta pelo título devido a um outro milagre: o do 94 minutos no dérbi da Luz. E quem, no jogo mais importante, em 120 minutos não marca um golo a uma defesa débil e adaptada, não merece ser feliz. 
A época acabou em Marselha. Qualquer balanço apontará obviamente para múltiplas culpas de Roger Schmidt, em vários momentos, e também nesta noite. Porém, o problema começou logo na construção do plantel, e num mercado de transferências fantasmagórico, que permitiu a saída de titulares importantes como Grimaldo ou Ramos (e isso tem de se aceitar), mas também de suplentes úteis (Gilberto, Ristic, Chiquinho, Musa, Guedes, D. Gonçalves) e, sobretudo, e no dinheiro desbaratado em inutilidades ou mesmo em lixo futebolístico .
130 milhões de euros depois, o Benfica "conseguiu" ficar com um plantel muito mais desequilibrado, e um onze claramente incompleto e manco. De todas as contratações, apenas Di Maria (e nem sempre) justificou o investimento salarial - paradoxalmente, veio a custo zero. Todos os outros custaram bem caro e andaram entre a inutilidade, a desadaptação e o logro total. Até Trubin sai do Vélodrome com culpas, e pode dizer-se que teve mais falhas graves e comprometedoras numa temporada do que Odysseas tivera em seis (e, diga-se, duas competições perdidas em penáltis, o que também não abona a favor do ucraniano). 
Nem vou insistir mais na questão do ponta de lança (48 milhões só na posição, para nenhum marcar mais do que 5 golos), tão óbvia ela se tem tornado. Confesso que até tenho pena deles. Laterais, medio defensivo etc. Tudo feito com os pés, sem rigor nem critério.
É no cruzamento de tudo isto que a análise tem de ser feita. 
Quem escolheu Jurasek e Arthur Cabral?  Quem pensou porque raio podiam substituir Grimaldo e Gonçalo Ramos e que podiam valer, em conjunto 34 milhões?!? Quem trouxe Carreras, Bernat, Prestianni, Rollheiser, Leonardo, porquê e para quê, numa sequência que já vinha de Schjelderup e Tengstedt, tudo a peso de ouro? Porque motivo continua a ignorar-se o mercado interno, e a insistir em comportamentos de novoriquismo estéril e, por vezes, quase ridículo, gastando milhões em jogadores para a equipa B ou para emprestar?
É preciso também ir mais atrás e perceber o que aconteceu com Rui Vitória, Bruno Lage e Jorge Jesus, todos campeões triunfais na Luz, e rapidamente caídos num ciclo arrasador de quebra de rendimento e resultados, seguidos de forte contestação e inevitável demissão, em alguns casos de forma súbita e muito difícil de entender. Será Roger Schmidt apenas mais um? Se nada for feito, quem vier a seguir tem alta probabilidade de sofrer o mesmo fim. Há que perceber o que se passou, caso contrário até Guardiola seria contestado na Luz e cairia em desgraça em pouco tempo. 
Há que reflectir, ainda, sobre a política desportiva do clube em sentido mais lato, e perceber que as equipas constroem-se de trás para a frente, que a altura e o peso é importante, que a agressividade não se alcança com pesos pluma, e que o tempo do futebol bonito ganhar títulos já lá vai - a menos que se tenha o plantel do City, e mesmo assim...Sporting e antes Porto, no plano doméstico, têm demonstrado dolorosamente esse facto, sem que o Benfica aprenda nada com isso. 
Até Agosto vamos ter tempo de falar de tudo. Não é aconselhável tomar decisões a quente. Mas alguma coisa tem de mudar. Aliás, muita coisa tem de mudar. 
Ainda acredito que Rui Costa possa fazê-lo. Se não o fizer, começará ele próprio a ficar em causa.
Adivinham-se, por diferentes motivos, as saídas de João Neves, Rafa e Di Maria (veremos António). Com os que ficam, confesso que temo o pior. Que temo, ainda muito pior. E recordo a propósito uma expressão antiga, creio que de um dirigente do Sporting, que dizia que apenas precisava de um cheque e de uma vassoura. 
Uma certeza tenho eu, e certamente muitos benfiquistas: se me disponibilizassem 130 milhões para contratar jogadores, mesmo sem perceber nada de agentes e intermediários, não faria pior do que foi feito pelo Benfica desde a saída de Enzo Fernández em Janeiro de 2023.
Peço perdão se escrevi algo de que me venha a arrepender no futuro, mas estou devastado com esta eliminação. Mais do que com os 5-0 do Dragão. Mais do que com a derrota em Alvalade. Mais do que com qualquer outro resultado dos últimos dois anos. Até porque me parecia que, mesmo com todas as insuficiências, este Benfica podia mesmo voltar uma final europeia. E, acima de tudo, jamais podia ter sido este Marselha (que vinha de cinco derrotas seguidas, que não defende nada, cujo meio-campo não pressiona e, por tudo isso, segue em 9º lugar na Ligue 1) a impedi-lo.

O DIA D

Hoje, quando o árbitro apitar para o fim da partida do Vélodrome, não haverá meio termo.
Ou os encarnados conseguem voltar a uma semifinal europeia - algo que nenhuma equipa portuguesa alcançou na última década -, e proporcionam uma enorme alegria a todos os seus adeptos, salvando desde logo a temporada 2023-24; Ou, pelo contrário, deixam a nação benfiquista mergulhada na depressão, abrindo uma crise desportiva (em cujo roteiro entrarão outros jogos, outras competições e outros resultados) da qual Roger Schmidt dificilmente sairá ileso.
Este é pois um momento dramaticamente definidor. Como olharemos para esta equipa amanhã? Espero, naturalmente, que a vejamos com glória, e os seus intérpretes, em campo e no banco, como heróis.
Não é preciso grande exibição. 0-0 basta. Mas o pior que o Benfica poderá fazer é agarrar-se a esse resultado. Até porque, face a este adversário me parece mais fácil marcar do que não sofrer.
Estamos perante aquele que é, pelo menos até agora, o jogo do ano. Acredito na equipa, e acredito que este Marselha seja ultrapassável. Venha então daí uma grande noite europeia.

DIGNO DE REGISTO

Presenças em Quartos de Final de provas da UEFA (últimos 20 anos):
As presenças do Benfica foram as seguintes:
- Liga dos Campeões (2006, 2012, 2016, 2022 e 2023);
- Liga Europa (2007, 2010, 2011, 2023, 2014, 2019 e 2024)

  O FC Porto tem apenas 6 e o Sporting apenas 5, pelo que o Benfica tem mais do que os rivais juntos.

ONZE HOMENS DE CORAGEM

Sem dúvida, o onze mais forte deste Benfica. Com um ponta-de-lança apenas esforçado, mas sem haver melhor. Apenas com duas contratações, tendo as outras sido falhadas. É o que há. Veremos se chega.

NÃO É A SALVAÇÃO DA ÉPOCA. É A PRÓPRIA ÉPOCA.

Um troféu em dívida para com o Benfica, que foi a equipa portuguesa que mais vezes chegou à final. Um empate em Marselha, uma eliminatória com a Atalanta, e um triunfo em Dublin. É esta a distância. Mas...uma coisa de cada vez.
 

NEM QUE SEJA COM A MÃO

Eu estava lá. E posso dizer que foi o momento mais vibrante que vivi no antigo estádio. O jogo não tinha sido espectacular, mas aquele golo, e os minutos que se lhe seguiram, foram algo que nunca esquecerei.
Num tempo em que não havia telemóveis, e tendo chegado tarde a casa, só na manhã seguinte soube que Vata tinha marcado com a mão. Não me importei. E agora ainda menos. Fica pelos roubos monumentais de que o Benfica foi vítima na Europa do futebol: a final de Turim, os quartos-de-final com Barcelona, Chelsea, Bayern e Inter, etc, etc.
Nos dias de hoje, é difícil que um golo assim seja validado. Mas qualquer parte do corpo serve. Serve até nem marcar golo nenhum, desde que a baliza de Trubin também fique a zeros.
Força Benfica!

O PALCO DE TODOS OS SONHOS

Vais ser aqui.
É este o local onde o Benfica vai jogar toda a sua temporada. 
A Supertaça está distante e é curta. A Champions não foi feliz. A Taça da Liga escapou nos penáltis. A Taça de Portugal foi levada pelas arbitragens. O Campeonato é uma quimera.
Resta a Liga Europa, e ainda é muito. Aliás, neste momento é tudo.
Alcançando as meias-finais, poder-se-á dizer que a época fica minimamente salva. Chegando à final, já estaremos a falar de história. Ganhar a prova será o cumprir de um sonho de várias gerações.
Não é preciso lembrar o que o Benfica não vence uma competição internacional há mais de 60 anos. E que nunca ganhou a Taça UEFA/Liga Europa, apesar de ter disputado três finais. A grande maioria dos benfiquistas (onde me incluo) nunca viu a sua equipa erguer uma taça europeia.
Ultrapassando o Marselha, os encarnados terão pela frente a Atalanta. Mesmo com as insuficiências do plantel, mesmo com as teimosias de Schmidt, a melhor versão deste Benfica pode chegar novamente a uma final. Não é utopia: é uma possibilidade realista, que deve ser agarrada com unhas e dentes.
A equipa encarnada entrará no Vélodrome em vantagem. Não será fácil segurá-la, mas pelo que já vi deste Marselha, o Benfica também pode marcar lá.
O coração já está a bater mais depressa. O friozinho na barriga começa a fazer-se sentir. Na quinta-feira à noite, não haverá meio termo: euforia ou desolação. Não é só um jogo. É toda uma temporada. Ou mesmo entrar para a história.

É ISTO

Pontas-de-lança do Benfica na Liga - últimos 15 anos:
Não é preciso ir mais atrás. Lembro-me, desde sempre, do Benfica com um avançado goleador. Agora, chego a ter pena de Arthur Cabral, Tengstedt e Marcos Leonardo, que custaram 20, 10 e 18 milhões de euros respectivamente (é fazer as contas, como alguém bastante sábio disse uma vez), mas não têm culpa de ali estar. O plantel do Benfica tem vários desequilíbrios (laterais, meio-campo defensivo, etc.), mas este é, sem dúvida, o mais penalizador.
 

NO POUPAR É QUE ESTÁ O GANHO

Ao ver o onze que Schmidt apresentou diante do Moreirense, apenas estranhei a presença de João Neves. Depois percebi que era apenas por 45 minutos, o que me deixou mais tranquilo.
O título está perdido. O 2º lugar está assegurado. Não há muito mais a fazer neste campeonato do que terminá-lo com dignidade.
Pelo contrário, na Liga Europa o Benfica terá, na próxima quinta-feira, em Marselha, aquele que desde já considero "O Jogo do Ano".  É na frente externa que os encarnados terão de apostar todas as suas fichas.
Claro que ganhar sabe sempre bem. E frente ao Moreirense, a equipa encarnada não só ganhou, como fê-lo com total justiça, e a espaços, até com algum estilo.
Gostei, por exemplo, do golo de Rollheiser. Como também gostei de Tiago Gouveia - embora deva aprimorar o passe, em vez de se lançar constantemente em dribles sobre tudo e todos, por vezes mesmo sobre ele próprio. Carreras também não esteve mal.
O mesmo não poderei dizer de Samuel Soares, que arriscou demasiado em situações simples (Trubin também o faz, é verdade), e pôs-se a jeito de uma infelicidade maior. Não compreendo a insistência em jogar com os guarda-redes sob pressão dos avançados contrários. É algo que me fere os nervos, cuja utilidade não entendo, a não ser por exibicionismo de alguns treinadores. Sair a jogar é uma coisa. Tentar fazê-lo dentro da pequena área, com adversários à ilharga, é apenas estúpido. 
Agora há que preparar o jogo da Liga Europa. Essa vai ser uma jornada de sofrimento, que não permitirá erros. Vai ser o tudo ou nada para o Benfica. Vai ser o tudo ou nada para Roger Schmidt.

ZERO DERROTAS

Benfica em casa na Liga Europa, desde que se chama como tal: 

ONZE PARA DOMINGO

Não há nada que inventar. Poupar todos os poupáveis. Lateral-direito não há, e Bah esteve muito tempo parado pelo que precisa, talvez de maior ritmo. O guarda-redes não tem de correr muito. O resto é para descansar.

CONFESSO QUE CHOREI

Para além do título do post, não consigo dizer muito mais sobre o assunto. Talvez apenas que a homenagem foi bonita, e permitiu aos mais jovens tomar contacto com uma verdadeira lenda do clube. Um homem extremamente afável, que está a travar uma batalha cruel para se manter entre nós por mais algum tempo, e bem merece todo o carinho dos benfiquistas e dos desportistas em geral. Como dizem os Diabos Vermelhos: desde 1982 até ao fim!

ERIKSSON MERECIA MAIS

O Benfica perdeu esta noite uma excelente ocasião para, sob os olhos de Eriksson, resolver a eliminatória em sua casa, e viajar tranquilamente até Marselha. Tal não aconteceu, fruto da ineficácia na frente de ataque (ai os pontas-de-lança...), mas, sobretudo, de um erro primário de António Silva (também tem direito...), que recolocou a equipa francesa na discussão do jogo, num momento em que parecia praticamente morta e conformada com o seu destino.
Daí aos assobios que se ouviram no fim (sempre de uma sonora minoria) vai uma longa distância. O Benfica ganhou um jogo, nos quartos-de-final de uma competição europeia - algo que não acontecia há dez anos. Fê-lo diante de uma equipa que tem um orçamento bastante superior, e participa numa liga muito mais forte e competitiva. Leva para a segunda-mão uma vantagem curta, mas...uma vantagem. E se a exibição foi irregular e terminou em tons acinzentados, diga-se que já vimos bem pior na presente temporada.
Há uma facção de adeptos que percebe pouco disto, e pensa que ainda vive no tempo do Eusébio. Quando o Benfica não ganha de forma esmagadora, manifesta o seu desagrado com assobios - quando não insultos a tudo e a todos, que se estendem nas redes sociais e em caixas de comentários, para não falar em arremesso de objectos para o próprio banco. Essa mania das grandezas, que mina parte do universo benfiquista, tem sido altamente prejudicial ao clube e às suas sucessivas equipas e profissionais. Há adeptos que, se mandassem, sob o manto de uma fantasmagórica "exigência" substituíam o treinador de três em três meses, destituíam os presidentes todos, despediam os jogadores (lembro-me de nomes como Nené, Paneira ou Cardozo serem apupados na Luz), e achavam que poderiam contratar o Haaland e o Mbappé, e o Benfica seria facilmente campeão do mundo e arredores, por ser essa a sua obrigação natural e os outros não existirem, sempre, claro, com o famigerado futebol de ataque, aberto como ninguém faz desde o Brasil-Itália de 1982.
Ora a vida não é assim. Nem no futebol, nem noutros âmbitos da sociedade. As pessoas e as instituições não são perfeitas, e nem tudo é tão fácil como "exigem" os assobiadores, os reis do teclado, e os que querem varrer isto, aquilo e o outro, como se na ponta da vassoura houvesse uma qualquer lâmpada mágica capaz de resolver os problemas - futebolísticos e não só. As insuficiências resolvem-se gradualmente com calma, bom senso e frieza. As coisas melhoram-se, não se destroem para reconstruir depois - isso é parar no tempo, ou mesmo voltar para trás e deixar passar todos os comboios.
Mas, por enquanto, toda a gente tem voz, e ainda bem. Mesmo aqueles cuja perspicácia e nível de inteligência não é espectacular. Mesmo aqueles que não a merecem e até, porventura, a queiram tirar a outros. Quando mil assobiam e cinquenta e quatro mil ficam calados, é o assobio que prevalece - dando pretextos para a comunicação social chafurdar na lama, e para os rivais se divertirem. Pelo meio, desestabilizam os jogadores, destruindo a sua confiança para compromissos futuros.
Ora nesta partida o Marselha jogou mal como eu esperava (e tinha visto diante do Lille), mas o Benfica não foi tão intenso como fora no duplo confronto com o Sporting. Ainda assim deu para ganhar, e podia, como comecei por dizer, ter dado para matar a eliminatória. Na parte final, a equipa de Schmidt pareceu cansada. Pediam-se substituições mais cedo, mas o banco não é famoso: o mito do plantel de luxo é uma mentira bem contada, e este Benfica é um pouco como quem tem um Porsche à porta de casa, mas não tem água canalizada nos sanitários. Meter quem? Rollheiser? Carreras? Cabral? Kokçu?Para quê? Com que consequências?
Em Marselha vai ser para sofrer. Se as coisas correrem mal será uma pena, até porque o Milan, e, sobretudo, o Liverpool, parecem fora da corrida. E os dez jogadores do Benfica que actuam atrás do ponta-de-lança, começam a formar uma equipa. Infelizmente só em Abril. Infelizmente sem alguém que materialize em golos as oportunidades criadas.
Em Salzburgo, com o Toulouse e com o Rangers, o Benfica escolheu sempre o caminho mais difícil para chegar até aqui. Que Marselha seja apenas mais uma estação. Dublin espera por nós.

ONZE PARA A EUROPA

...era interessante que o Benfica tivesse um ponta-de-lança. Enfim, um qualquer, com o mínimo nível para ser titular. Sei lá...um Raul Jimenez, um Vinicius, um Seferoviczito, um Vata (bastante a propósito)...ou até mesmo, já estou por tudo, um Valdir Bigode qualquer. Já que ele não existe no plantel, coloque-se alguém que pelo menos corra e pressione os defesas.
PS: Também começo a ter medo de ver Trubin na baliza. Realmente, o Benfica tem um problema com as áreas, sendo que é nelas que se decidem os resultados.

MOURINHO OU TALVEZ NÃO

A presença constante de José Mourinho nos jogos do Benfica parece sinalizar uma disponibilidade para regressar ao clube onde se iniciou como treinador principal.
A sua trajectória nos últimos anos afasta-o dos principais colossos do futebol europeu (os treinadores esgotam-se), e não é de estranhar que pondere voltar a Portugal, voltar a viver em Setúbal, fazer tranquilamente o que gosta - mesmo com um salário distante daqueles que já auferiu noutros tempos - e preparar o final de carreira com que sempre sonhou, no cargo de seleccionador nacional (por agora ocupado). 
Resta saber o que pensa Rui Costa sobre a hipótese, partindo do pressuposto que Roger Schmidt não chega à final da Liga Europa, e, através dela, não consegue recuperar o afecto do universo benfiquista.
Comecemos por aqui: o Benfica discute com o Marselha a passagem às meias-finais da segunda prova continental, e enquanto esse sonho permanecer vivo, é totalmente despropositado que o clube (não, obviamente, os adeptos) deixe passar considerações sobre a eventual substituição de um treinador que tem contrato por mais duas épocas - renovação que, também é preciso dizer,, se está a revelar uma precipitação, não porque Roger Schmidt não possa, de todo, continuar, mas porque era preferível que o clube tivesse agora maior liberdade para tomar decisões sobre a matéria. Seja como for, enquanto houver Liga Europa, há Roger Schmidt. Depois, logo se vê.
Vamos então a Mourinho.
Há uns anos atrás o setubalense estava no topo do mundo, e era tão inimaginável contratá-lo como seria agora trazer Guardiola ou Ancelotti. Após a saída tumultuosa do Real Madrid, e mesmo tendo ainda conquistado duas competições europeias (em Manchester e em Roma), Mourinho entrou num ciclo descendente, que é comum a quase todos os treinadores a partir da altura em que as suas inovações são copiadas, e os factores diferenciadores se esgotam. As carreiras da maioria dos técnicos é pois uma espécie de gráfico de distribuição normal - tanto quanto me lembro das aulas de estatística-,  e poucos escapam a esse padrão de crescimento, pico e declínio.
O Mourinho de 2024 será uma boa opção para o futuro do Benfica? Enfim, há que lembrar que só esta versão se cruza com a possibilidade financeira de o contratar. Se estivesse no auge, era uma hipótese totalmente quimérica. É por estar longe das cogitações de Liverpool, Barcelona, Bayern e afins, e só por isso, que se coloca a hipótese de vir para Portugal.
Quanto a mim, Mourinho seria uma boa opção, precisamente pelos motivos que têm sido invocados para o não ser: o famigerado futebol ofensivo, que faz gastar rios de dinheiro e vê fugir demasiados títulos.
Ou seja, Mourinho era talvez o homem certo para ajudar a transformar o futebol do Benfica, de algo como um corpo de bailarinos, para um carro de combate forte e eficaz. Com a sua experiência, com a sua personalidade e autoridade, talvez só ele mesmo o conseguisse, pois qualquer outro treinador que tentasse trilhar esse rumo encontraria, nas bancadas e nos gabinetes da Luz, montanhas de pedra pela frente.
Fosse possível seguir essa política desportiva, e tal teria de se traduzir também numa reformulação do plantel - onde não caberiam Schjelderups, Carreras, Prestiannis nem Rollheisers. Para além do necessário alinhamento da massa crítica benfiquista.
O melhor seria, todavia, não voltar a este tema tão cedo. Era sinal que o Benfica prosseguia na Liga Europa, e que, como diria Mark Twain , as notícias da morte de Schmidt eram manifestamente exageradas.

FOCO NA EUROPA

O campeonato acabou. Parabéns ao Sporting, que apesar de nestes dois derbis não se ter superiorizado em nada ao Benfica (a não ser na eficácia) , na globalidade da época foi mais regular e mais consistente. Ganhou, sobretudo, no mercado de transferências - quando, com muito menos dinheiro, se reforçou cirurgicamente e de forma certeira, ao passo que o Benfica gastou quase 150 milhões e ficou com um plantel mais fraco e mais desequilibrado do que aquele que tinha. Ainda assim podia ter ganhado estes dois jogos, e agora tudo seria diferente. Mas com um trio de pontas de lança absolutamente medíocre, torna-se difícil ser feliz. 
Há que aprender com os erros, e não deitar fora o menino com a água do banho.  Ou seja, não atirar culpas para quem não as tem. Eu, pelo menos, não sei quem as tem, e mais do que as procurar, interessa-me garantir que não se repitam. 
Dito isto, e reafirmando que o Benfica não merecia perder esta partida, há que lembrar o que resta, e que é bastante importante. 
Ontem vi o Lille-Marselha, e fiquei com a sensação que em condições normais, os franceses estão claramente ao alcance do Benfica. Estamos já nos quartos de final, e isso não é despiciendo, nem pode ser desvalorizado ou ignorado. Há que recuperar animicamente os jogadores (os adeptos podem dar uma ajuda), e apostar todas as fichas na prova internacional. Chegar a umas meias finais permite, de algum modo, salvar a face. Chegar à final será construir história. Ganhar, seria abafar tudo o resto e concretizar um sonho. E por agora, os benfiquutas ainda podem sonhar. 
No campeonato resta gerir o segundo lugar, e esperar que tal garanta o apuramento directo para a Champions. 
O Sporting, por seu lado, já tem o segundo campeonato destas décadas. 1980 e 1982.2000 e 2002. Agora 2021 e 2024. Aproveitem bem, que pode não se repetir tão cedo. 

EM EQUIPA QUE ABAFA NÃO SE MEXE

Pelo que se viu na terça-feira, este é o onze mais forte do Benfica 2023-24. Se Bernat ainda voltasse a ser o que já foi, podia adiantar-se Aursnes, e entrar o espanhol para o lado esquerdo da defesa. Como isso ainda é uma quimera, joga David Neres, com o que de bom traz (no plano ofensivo) e com os custos que pode acarretar entrar em Alvalade com dois alas tão abertos (no plano defensivo).
Quanto ao ponta-de-lança, nenhuma das hipóteses é boa - tampouco jogar sem ele, pois limita a importância de Rafa (o que já ficou demonstrado em todas as tentativas de o fazer). Tendo mesmo de colocar um, Tengstedt é claramente o que dá mais à equipa em termos colectivos, movimentando-se bem, pressionado e abrindo espaços para os restantes avançados, nomeadamente Di Maria, Neres e o próprio Rafa.
Não tem golo? Enfim, já deu vitórias sobre Sporting e Braga. E se olharmos às estatísticas anteriores à chegada à Luz, é dele a média de golos mais alta, face a Cabral e a Leonardo. Dentro do que existe no plantel (e que é, de facto, confrangedor, sobretudo levando em conta os 48 milhões consumidos só nesta posição), o nórdico é um mal menor. 

É ASSIM:

 



ONZE ANOS, SÓ UMA DERROTA

Conforme se vê no quadro acima, desde 2012 o Benfica só perdeu uma vez em Alvalade para o campeonato. Neste período, ganhou cinco jogos, e empatou outros tantos. A única derrota foi à porta fechada, com um golo de Matheus Nunes aos 94 minutos.
Diria que a tradição joga a favor dos encarnados. Porém, desta vez um empate não chega: é mesmo preciso ganhar.

UM GOLO E UM PENÁLTI? É DEMAIS!


Golo limpo em Alvalade. Penálti claro na Luz. Eliminatória subvertida. Os Fábios (Melo e Veríssimo) evitaram o 2-2 na primeira mão. João Pinheiro e, sobretudo, Hugo Miguel, evitaram um eventual 3-2 na segunda. À excepção de Pinheiro, todos os outros intervenientes têm um histórico negro de anti-benfiquismo,  Perante isto, há que rezar para que o dérbi do Campeonato seja decidido apenas pelos jogadores e pelos treinadores. Os da Taça, infelizmente, não foram.

POR ONDE ANDASTE, BENFICA?

Perante a eliminação diante do eterno rival, confesso que sinto algum pudor em intitular a crónica com um "O Campeão Voltou!". Mas o esforço dos jogadores, a forma vibrante como se entregaram à partida, a garra com que disputaram cada lance, merecia essa frase, e merecia, sobretudo, uma presença no Jamor.
É bastante improvável ser eliminado, sair do estádio sereno, e até, porque não dizê-lo, orgulhoso da prestação da equipa. Foi isso que aconteceu. Aliás, os aplausos no fim são elucidativos: quando se deixa a pele e o sangue em campo, mesmo tristes com o resultado, resta aplaudir e acreditar que melhores dias estão aí a chegar.
O Benfica terá feito a melhor exibição da temporada, protagonizando um grande espectáculo. Superiorizou-se claramente ao seu adversário, durante minutos a fio encostou-o às cordas, e só por manifesta infelicidade (e alguma ineficácia nas áreas) não virou a eliminatória a seu favor. No conjunto das duas mãos, apenas não dominou a primeira parte de Alvalade. Nos outros três quartos da eliminatória foi superior. Neste jogo, claramente superior. O resultado não fez justiça ao que se passou em campo.
Essa superioridade manifestou-se, como eu gosto, na luta impiedosa por cada posse de bola, na definição correcta dos momentos e locais de pressão, na conquista reiterada de duelos individuais e segundas bolas, em suma, na alma com que se entregou à partida, dispondo-se a comer a relva, se necessário fosse. É esta, e não outra, a matriz original do Benfica. Foi com ela que o clube, ainda sem Eusébio, conquistou a Europa.
Devo dizer que fiquei surpreendido. Tal como terá ficado Ruben Amorim, que ainda não tinha defrontado um Benfica tão forte, tão audaz, tão agressivo e tão intenso como o desta noite. Nem no duplo confronto da época passada, precisamente com este mesmo resultado (2-2). Diga-se também que os encarnados jogaram melhor, muito melhor, nesta partida da Taça, do que na do Campeonato - pese embora todo o heroísmo da reviravolta no tempo de descontos.
Dir-se-á que não valeu de nada. Mas quando ainda há muito por jogar e para ganhar, vale pela esperança e pela confiança que aporta face aos próximos compromissos. Afinal, esta equipa é capaz de jogar futebol de alto nível. Pode, e deve, voltar a fazê-lo já no próximo sábado, e depois frente ao Marselha. A Taça de Portugal escapou? É pena, mas o mais importante ainda está de pé.
Se a sorte não esteve com os encarnados, nem neste jogo, nem no outro, as arbitragens também não ajudaram: um golo limpo anulado a Di Maria na primeira mão, e agora um penálti de Coates sobre Rafa que o VAR entendeu ignorar. Roger Schmidt já falou sobre isso. Podia ter acontecido um 2-2 em Alvalade, e um 3-2 na Luz. Não me apetece dizer muito mais. Antes valorizar a prestação de um Benfica do qual, confesso, desconfiava, e que, com esta exibição voltou a fazer-me acreditar.
Porém, nem tudo são rosas. Se a presença de Tengstedt dá alguma vivacidade ao futebol ofensivo da equipa, com as suas diagonais e desmarcações (e por isso, tem de ser ele o titular), nem ele, nem qualquer um dos outros pontas-de-lança do plantel têm a eficácia desejada diante das redes. Com um Gonçalo Ramos ou afim, os encarnados teriam esmagado esta eliminatória. Na outra área também não gostei da forma demasiado facilitada como os golos do Sporting surgiram. Falta de cobertura ao remate de Hjulmand, e uma infeliz defesa para a frente de Trubin (que, diga-se, também ainda não mostrou muito mais do que Vlachodimos). Ambos podiam, e deviam, ter sido evitados. Obrigaram a equipa a um esforço suplementar de correr duplamente atrás do prejuízo, e que, sendo meritório, acabou por ser inglório.
Dito isto, estou ansioso pelo Dérbi do campeonato. Não há melhor oportunidade para corrigir este resultado e esta eliminação. O onze inicial, digo-o desde já, é o mesmo. Ficou demonstrado ser esta a melhor versão possível do plantel - apenas com dois reforços (Trubin e Di Maria), o que também é revelador.

ONZE PARA O JAMOR

2-1, PROLONGAMENTO E VITÓRIA NO DESEMPATE POR PENÁLTIS...
 

PREOCUPANTE

Em casa, com o apoio de 55 mil, e diante do último classificado, o Benfica ficou-se por uma vitória tangencial e demasiado sofrida, deixando sinais de preocupação para o que se segue.
Também não me recordo de, no mesmo jogo, uma equipa falhar três penaltis. Não quero bater no ceguinho, mas Arthur Cabral mostrou, uma vez mais, não ter nível para o clube. Tal como quase todas as contratações desta época.
Assim é difícil. É difícil ganhar, e, sobretudo, acreditar que se pode ganhar a adversários mais fortes - como o Sporting ou como o Marselha.
Valeu João Neves. Para esse não há cansaço, nem quebras de confiança. Bem mereceu o golo que marcou. Bem merecia melhor equipa à sua volta.
Neste momento a equipa de Schmidt está em três frentes. Muito gostava de poder continuar a dizer o mesmo dentro de quinze dias. Infelizmente não me parece que isso venha a ser possível. 

ONZE PARA O CHAVES


INGLÓRIO

Não passava pela cabeça de ninguém, nem pela minha, que a equipa feminina do Benfica pudesse eliminar o todo poderoso Lyon - oito vezes campeão europeu nos últimos treze anos. O que se pedia era uma atitude digna e entrega total, fazendo o melhor que as capacidades atingissem e a sorte permitisse.
Quanto à atitude e à entrega, há que dizer que foi de seis estrelas. Já a sorte não apareceu, nomeadamente naqueles minutos de descontos, quando um resultado tangencial, com o Benfica estoicamente à procura do empate, se transformou injustamente numa goleada.
Também com a arbitragem as encarnadas tiveram algum azar. Há um penálti evidente com o marcador em branco, que podia ter proporcionado outro tipo de jogo, eventualmente com um Benfica mais fechado e menos exposto às perigosas transicções ofensivas das francesas. Nunca teremos o contraditório, mas um golo naquela altura, prejudicial não seria certamente.
O que fica é uma eliminação mais do que anunciada, e uma saída mais do que digna das comandadas de Filipa Patão - que, diga-se, está a fazer um extraordinário trabalho.
O que é importante é estar lá de novo no próximo ano, e a pouco e pouco ir reduzindo distâncias para quem lá anda há mais tempo. Sendo que há equipas, como por exemplo este Lyon ou o Barcelona, com uma fluidez de jogo e uma intensidade competitiva a léguas do que vemos no futebol feminino em Portugal.
Individualmente destacaria o perfume de Kika Nazareth, uma espécie de Rui Costa em versão mulher, que duvido permaneça muito tempo em Portugal, e Marie Alidou, com uma acentuada veia finalizadora. Pela negativa, Jéssica Silva, que não acrescentou nada à equipa, parecendo jogar mais para ela do que para o colectivo, e mostrando que não faz tanta falta como ela pensará.

DESCANSA EM PAZ, PACHECO

Se há momentos que definem a vida de uma pessoa, o momento mais simbólico da carreira de António Pacheco não foi o mais nobre - pelo menos, aos olhos de grande parte dos benfiquistas.
Mas reduzir Pacheco àquele malfadado "verão quente" não é justo para a memória que nos deixa. Pelo menos é isso que quero pensar.
Pacheco totalizou seis temporadas de águia ao peito (duas no Sporting). Realizou 220 jogos oficiais pelo Benfica (apenas 35 pelo rival). Marcou 48 golos pelos encarnados (somente três ao serviço dos leões). Conquistou dois campeonatos, uma taça e uma supertaça no Benfica (nada em Alvalade). Ou seja, Pacheco foi, sobretudo, um jogador do Benfica, e chegou mesmo, ainda que circunstancialmente, a capitanear a equipa. Era também, sabe-se, um benfiquista, que, numa decisão fundamentada em aspectos pessoais, traiu por uma vez o seu benfiquismo - como antes dele Rui Águas o fizera, e hoje comenta jogos na BTV.
É de recordar acima de tudo a sua presença, como titular, em duas finais da Taça dos Campeões Europeus pelos encarnados, algo que, depois da década de sessenta, apenas é partilhado com Silvino e Mats Magnusson.
Para mim, Pacheco foi também o jovem que vi estrear ao vivo, curiosamente na sua terra, em Portimão, numa tarde de verão de 1987 (e para mim de férias algarvias), com muito calor e casa a abarrotar - mais curiosamente, ainda, num jogo que o Benfica venceu por 1-2 com dois golos de...Rui Águas. Nessa temporada ia sentar o regressado Chalana muitas vezes no banco de suplentes, afirmando-se como um extremo-esquerdo de grande qualidade e velocidade, sendo considerado o melhor em campo em vários jogos consecutivos - que culminaram com a final de Estugarda (em que converteu um dos penáltis - algo em que era especialista).
Dois anos depois, foi ele que conquistou o pontapé de canto que iria valer a célebre mão de Vata, e a final de Viena. E na temporada seguinte, foi ele a dar lugar a César Brito, para uma também célebre vitória no Estádio das Antas por 0-2. Mais tarde, já do outro lado da Segunda Circular, protagonizou a igualmente célebre substituição de Carlos Queiroz (com quem nunca se entendeu), que o colocou para a segunda parte no lugar do lateral Paulo Torres, deixando o flanco esquerdo do Sporting à mercê do vendaval benfiquista na tarde dos 3-6 - que ao intervalo era ainda só 2-3.
Foi internacional A por seis vezes, mas quem o viu jogar e acompanhou a sua carreira fica com a sensação que talvez pudesse ter chegado um pouco mais longe. Diz-se que uma vez Eriksson mandou filmá-lo num treino, e depois lhe entregou a cassete para que ele, em casa, pudesse perceber porque motivo não ia ser titular.  A verdade é que, ainda assim, ficou ligado a grandes equipas do Benfica, e a grandes momentos do clube.
É tudo isso que quero recordar neste momento. É com isso que vou ficar de Pacheco, que agora parte, demasiado cedo, com apenas 57 anos.
Paz à sua alma!